15 Junho 2025
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Infraestrutura de Telecomunicações na Ucrânia (2022–2025): Destruição e Resiliência

Telecommunications Infrastructure in Ukraine (2022–2025): Destruction and Resilience

Visão Geral: Tipos de Infraestrutura Alvejados

A rede de telecomunicações da Ucrânia abrange uma ampla gama de infraestruturas críticas que vêm sendo atacadas desde 2022. Estas incluem:

  • Infraestrutura de rede móvel: Milhares de estações base de celular e torres de transmissão (os mastros e antenas físicos que fornecem cobertura móvel 3G/4G) foram danificadas ou destruídas [1] [2]. Centros-chave de comutação móvel e abrigos de equipamentos também foram atingidos por bombardeios.
  • Espinha dorsal da internet fixa: Linhas troncais de fibra óptica e nós regionais de troca de internet foram rompidos em zonas de combate. Mais de um quarto da rede de banda larga fixa da Ucrânia foi desativada [3] [4]. Cabos de fibra óptica subterrâneos – totalizando dezenas de milhares de quilômetros – foram cortados ou danificados por explosões e escavações (às vezes intencionalmente por forças de ocupação) [5] [6].
  • Instalações de radiodifusão: Torres de transmissão de televisão e rádio têm sido alvos prioritários. Pelo menos 18 grandes mastros de transmissão foram destruídos, silenciando TV/rádio nessas áreas [7]. Isso inclui estruturas icônicas como a Torre de TV de Kiev, atingida por um míssil russo em 1º de março de 2022, e a torre de TV de 240 metros de Kharkiv, que foi partida ao meio por um ataque aéreo em abril de 2024 [8] [9].
  • Redes de satélite e dados: O ataque russo também se estendeu às comunicações via satélite. Em 24 de fevereiro de 2022 (primeiro dia da invasão), um ataque cibernético derrubou a rede de satélite KA-SAT da Viasat, interrompendo o serviço de internet na Ucrânia e em partes da Europa [10]. Estações terrestres e enlaces de uplink via satélite sofreram tentativas de bloqueio de sinal [11]. Centros de dados e centrais de telecomunicações em áreas de conflito foram saqueados ou destruídos, e operadores às vezes sabotaram equipamentos preventivamente para impedir que caíssem em mãos inimigas [12].

Juntas, essas investidas visaram cortar a conectividade da Ucrânia – tanto das comunicações civis quanto dos elos de comando militar – desmontando os pilares físicos da internet, do telefone e dos sistemas de radiodifusão. As seções seguintes detalham a linha do tempo da destruição, os impactos regionais e como a Ucrânia manteve as comunicações funcionando contra todas as probabilidades.

Cronologia dos Principais Danos (2022–2025)

Pessoas analisam os destroços de uma torre de transmissão destruída por um ataque de míssil russo em Kharkiv (abril de 2024) [13]. Instalações críticas de telecom – de torres de TV a polos de fibra – têm sido repetidamente alvo desde 2022.

2022 – Invasão Inicial e Quedas de Serviço: A invasão em larga escala da Rússia em fevereiro de 2022 imediatamente interrompeu os serviços de telecomunicação ucranianos. Nos primeiros dias (24–25 de fevereiro de 2022), bombardeios intensos causaram apagões de internet em cidades como Kharkiv e Mariupol, enquanto ataques cibernéticos derrubaram enlaces de satélite [14] [15]. Um ataque de míssil russo em 1º de março de 2022 atingiu a Torre de TV de Kiev, matando comunicadores e interrompendo temporariamente os principais canais de TV [16]. No início de março, regiões inteiras experimentaram quedas de comunicação – por exemplo, uma subestação de energia danificada em combate causou um apagão de telecomunicações em todo o Oblast de Sumy em 3 de março [17] [18]. A cidade portuária de Mariupol ficou “quase completamente” offline sob cerco no final de fevereiro [19]. Os principais operadores da espinha dorsal da internet ucraniana também sofreram: um ataque ao provedor GigaTrans interrompeu a conectividade perto de Kiev em 26 de fevereiro [20] [21]. Já em março de 2022, cerca de 500 estações base móveis estavam offline devido a cortes de energia ou danos nas zonas de combate [22].

Meados/final de 2022 – Alvo Sistemático: Durante o verão e o outono de 2022, as forças russas continuaram a degradar as comunicações, especialmente em territórios ocupados. Os ocupantes em retirada frequentemente cortavam ou confiscavam equipamentos de telecomunicação – “a primeira coisa que os russos fazem… é privar as pessoas da comunicação”, afirmou um funcionário ucraniano [23] [24]. Em áreas como Kherson, Melitopol e Mariupol, as redes móveis ucranianas foram desligadas e substituídas por operadoras controladas pela Rússia, criando um apagão informacional [25] [26]. Os ataques deliberados à telecomunicação continuaram: em 10 de outubro de 2022, em um dia de ataques massivos com mísseis, foguetes russos atingiram escritórios de telecomunicações no leste da Ucrânia, matando pelo menos quatro trabalhadores de comunicação [27]. Naquele outono, a Rússia iniciou uma campanha contínua contra a rede elétrica ucraniana; esses apagões rotativos derrubavam torres de celular e nós de internet por horas ou dias seguidos. Já em novembro de 2022, partes de Kiev, Lviv, Odessa e Zaporizhzhia ficaram sem eletricidade ou conectividade por dias após bombardeios pesados à infraestrutura [28] [29]. As quedas de telecomunicação tornaram-se generalizadas – a Ucrânia enfrentou 276 interrupções distintas de internet em 2022, totalizando 19.000 horas de inatividade, especialmente nas áreas de linha de frente e ocupadas [30] [31].

2023 – Greves contínuas e apagões: Em 2023, mesmo com a restauração dos serviços em áreas libertadas pela Ucrânia, os ataques russos à infraestrutura persistiram. Os danos à infraestrutura de telecomunicações aumentaram cerca de 29% de 2022 para 2023 [32]. Durante o inverno de 2022–23, repetidos ataques de mísseis à rede elétrica causaram apagões em todo o país – o que obrigou operadoras de telecomunicações a atuar em modo de emergência, mantendo milhares de torres de celular com geradores. Em determinados momentos, mais da metade das estações-base de rede móvel ficaram inoperantes por falta de energia [33]. Regiões da linha de frente como Donetsk, Luhansk, Kherson e Zaporizhzhia sofreram bombardeios constantes que destruíram torres de celular e centrais telefônicas, acompanhando o vaivém das batalhas. Por exemplo, durante a contraofensiva ucraniana em Kharkiv e Kherson, engenheiros encontraram redes locais inteiras em ruínas, exigindo reconstrução completa [34] [35]. Em todo o ano de 2023, a guerra cibernética também continuou: mais de 1.100 ataques cibernéticos tiveram como alvo o setor de TIC desde o início da guerra [36], inclusive ataques a escritórios de provedores de internet e tentativas de redirecionar o tráfego para redes controladas pela Rússia [37]. Apesar disso, a Ucrânia conseguiu religar várias cidades liberadas – até outubro de 2022, o país restaurou 1.232 estações-base em áreas libertadas que haviam sido derrubadas pela Rússia [38], e esse esforço só cresceu em 2023.

2024 – Ataques de alto impacto à telecomunicação: A Rússia não deu sinais de recuar em 2024. Um exemplo impressionante ocorreu em 22 de abril de 2024, quando um míssil de cruzeiro acertou a principal torre de TV de Kharkiv, partindo a estrutura ao meio [39] [40]. Esse ataque deliberado contra a segunda maior cidade da Ucrânia tinha o objetivo de “limitar o acesso de Kharkiv à comunicação e à informação”, disse o presidente Zelenskyy [41]. Notavelmente, nenhum funcionário morreu (eles haviam se abrigado), mas as transmissões de TV digital ficaram temporariamente fora do ar [42] [43]. Ao longo de 2024, locais de telecom e energia cruciais permaneceram sob bombardeio – analistas registraram 389 ataques à infraestrutura crítica (energia e comunicações) apenas em 2024 [44]. As forças russas também passaram a mirar cada vez mais o uso crescente do Starlink da SpaceX, tentando bloquear os sinais de internet via satélite usados pelos militares ucranianos [45]. No final de 2024, os danos às telecomunicações foram agravados por quase dois anos de guerra, levando a apelos urgentes pela reconstrução (a Ucrânia estimou a necessidade de US$ 4,7 bilhões na próxima década para reconstruir plenamente o setor) [46].

Início de 2025 – Conflito e conectividade em andamento: Em meados de 2025, ataques esporádicos ainda causam danos. Em janeiro de 2025, por exemplo, houve mais de 40 ataques registrados contra infraestrutura crítica (alguns certamente afetando instalações de telecom) [47]. Cidades da linha de frente como Bakhmut e Avdiivka, sob ataque contínuo, tiveram as comunicações “reduzidas a escombros” assim como outros serviços públicos [48]. Ainda assim, as redes ucranianas de telecomunicação se adaptaram para serem mais resilientes – apesar dos novos incidentes, nenhum blackout nacional ocorreu. Cerca de 88% das estações-base móveis ucranianas permanecem operacionais mesmo durante o conflito [49] [50]. A cronologia da destruição ainda está em andamento, mas as medidas tomadas pela Ucrânia para mitigar apagões (descritas mais adiante) mantiveram grande parte do país online, apesar das adversidades.

Impacto Regional: Áreas mais afetadas

A destruição das telecomunicações não foi uniforme – ela reflete a intensidade dos combates e da ocupação. Leste e sul da Ucrânia sofreram o maior impacto:

  • Oblast de Donetsk: Com combates prolongados (Mariupol, Bakhmut, Avdiivka, etc.), a região de Donetsk responde por cerca de 17% de todos os danos à infraestrutura de telecomunicações do país [51]. Muitas torres de celular, centrais telefônicas e torres de TV em Donbas foram destruídas por bombardeios. Cercos longos (como o de Mariupol) levaram à completa interrupção das comunicações no início de 2022 [52], e grande parte da rede fixa ainda permanece inoperante sob ocupação russa ou combates ativos.
  • Oblast de Kharkiv: Também cerca de 17% de todo o dano em telecom ocorreu na região de Kharkiv [53]. A cidade de Kharkiv, segunda maior da Ucrânia, teve sua torre de TV atacada repetidas vezes (em março de 2022 e finalmente destruída em abril de 2024) [54]. Cabos de fibra óptica extensos que cruzam o oblast (próximo à fronteira russa) foram cortados. Durante a ocupação russa de partes do oblast de Kharkiv em 2022, comunidades inteiras ficaram isoladas até as forças ucranianas restabelecerem o serviço móvel nas cidades libertadas [55] [56].
  • Oblasts de Kherson e Zaporizhzhia: Essas regiões do sul sofreram cada uma cerca de 11–13% do total de danos às telecomunicações [57]. Em Kherson, tropas russas desviaram fisicamente o tráfego de internet via Crimeia e Rússia e destruíram a infraestrutura ao recuar no final de 2022 [58] [59]. Grandes áreas rurais de Kherson ficaram sem internet ou mobile ucraniano até as redes serem reconstruídas após a libertação. Zaporizhzhia, parcialmente ocupada (incluindo as áreas estratégicas de Enerhodar e Melitopol), também sofreu grandes cortes de fibra e destruição de torres de celular. A ameaça permanente em torno da usina nuclear de Zaporizhzhia causou ainda interrupções nas comunicações dos sistemas de segurança [60].
  • Oblast de Kyiv: A região da capital (cerca de 11–12% dos danos em telecomunicações [61]) foi um dos primeiros alvos. Além do ataque à torre de TV de Kyiv, os cabos de telecomunicação e torres de celular nos subúrbios de Bucha, Irpin e Hostomel foram devastados durante o ataque fracassado da Rússia à capital entre fev–mar de 2022. Enquanto as redes centrais da cidade de Kyiv foram rapidamente restauradas, a região ainda sofre ataques de drones e mísseis contra estações de energia/utilidade, o que afeta indiretamente as telecomunicações. Por exemplo, ataques a subestações de energia por vezes tiraram o serviço de internet de partes da região até que os geradores entrassem em funcionamento.
  • Outras regiões: Luhansk, Mykolaiv e Odesa também sofreram danos significativos, especialmente nas áreas de combate ou ocupação russa. Em Luhansk, quase toda a comunicação foi cortada após Sievierodonetsk e Lysychansk serem tomadas em meados de 2022, com as redes ainda majoritariamente inoperantes. Em Mykolaiv, bombardeios intensos em 2022 atingiram centros de telecomunicações, mas reparos rápidos mantiveram o centro regional online. Odesa (embora mais distante da linha de frente) teve seus pontos de troca de internet afetados por apagões e um importante ataque de drone russo a um edifício de telecom em 2023 (segundo autoridades regionais).

No geral, a destruição maior coincide com a linha de frente da guerra. Donetsk e Kharkiv apresentam as perdas absolutas mais altas, seguidas por Zaporizhzhia, Kherson e a região de Kyiv [62]. Territórios ocupados sofreram não só destruição física, mas também desmantelamento deliberado: forças de ocupação confiscaram equipamentos ou forçaram ISPs ucranianos a migrar para redes e códigos de país russos, efetivamente apagando sinais ucranianos dessas áreas [63] [64]. Essa divisão regional destaca que restaurar a conectividade é mais urgente no Leste e Sul, onde o dano é maior e a restauração dos serviços depende frequentemente do avanço militar no terreno.

O Impacto da Guerra em Números

Dados quantitativos ilustram a escala das perdas em telecomunicações desde 2022:

  • Danos à rede móvel: Mais de 4.300 estações base móveis (locais de torres de celular) foram destruídas ou gravemente danificadas pelos combates até o início de 2024 [65] [66]. Isso representa cerca de um quarto de todas as estações base do país. Para comparação, cerca de 11% das estações base móveis estavam offline em maio de 2022 [67]; esse número aumentou à medida que a guerra continuou. O governo relata que cerca de 12% dos lares ucranianos perderam completamente o serviço móvel devido à destruição [68].
  • Infraestrutura de linha fixa e internet: Aproximadamente 25% das instalações de rede de banda larga fixa foram destruídas ou tornadas inoperantes [69] [70]. Mais de 30.000 km de cabo de fibra óptica ao longo da Ucrânia foram cortados ou danificados em combate [71]. (Estimativas iniciais em 2022 eram ainda maiores – incluindo cabos em zonas ocupadas, até 60.000 km de fibra foram impactados [72].) Grandes provedores de backbone de internet sofreram interrupções – por exemplo, a conectividade da Ucrânia caiu acentuadamente (~16%) nas primeiras semanas da invasão e 17% dos dispositivos conectados em rede ficaram inacessíveis no país [73]. Algumas regiões perderam a maioria do acesso à internet: os endereços IP acessíveis de Kherson caíram 81%, e Donetsk 59%, em relação aos níveis pré-guerra [74].
  • Torres de transmissão e comunicação: Pelo menos 18 torres de transmissão de rádio e TV foram destruídas por ataques russos ao longo de 2022 [75], com mais atingidas em 2023–2024 (ex: torres de TV locais em cidades na linha de frente). As torres icônicas de Kyiv e Kharkiv estavam entre as atacadas [76] [77]. Esses ataques interromperam TV/rádio aberta, embora os serviços geralmente tenham sido retomados via backups em poucos dias.
  • Interrupções de serviço: Do início da guerra até o começo de 2023, analistas registraram 276 apagões distintos de internet de diferentes escalas em toda a Ucrânia, totalizando quase 19.000 horas de conectividade interrompida [78]. Desses, 45 foram grandes apagões (de cidade ou região) com duração conjunta de mais de 3.800 horas [79]. Os mais longos foram em áreas sob ocupação – por exemplo, a região de Kherson suportou quase 1.500 horas de apagão antes da libertação [80].
  • Custo econômico: O Banco Mundial estimou, ao final de 2023, cerca de US$ 2,1 bilhões em danos diretos ao setor de telecom da Ucrânia [81]. O governo ucraniano projeta um valor maior para a recuperação total, incluindo modernização – serão necessários cerca de US$ 4,7 bilhões ao longo de 10 anos para reconstruir e atualizar toda a infraestrutura [82]. Enquanto isso, as perdas indiretas do setor digital (receitas perdidas, etc.) já superam US$ 19 bilhões [83] [84]. Empresas de telecomunicações já gastaram coletivamente dezenas de milhões de dólares em reparos (ex: Vodafone Ucrânia gastou ₴2 bilhões para consertar 900 locais, e a Lifecell US$ 150 milhões em 1.000 reparos) [85] [86]. Centenas de pequenos provedores locais foram devastados financeiramente – 720 provedores sofreram grandes prejuízos e quase 100 enfrentam falência devido ao impacto da guerra [87].

Esses números destacam tanto a amplitude da destruição (de milhares de estações móveis à redução do acesso nacional à internet) quanto a resiliência – mesmo sob bombardeio, a maioria das comunicações da Ucrânia permaneceu online. Em meados de 2025, cerca de 88–90% da capacidade de telecomunicações pré-guerra segue operacional [88] [89], graças a esforços extraordinários de mitigação que serão descritos a seguir.

Esforços de Restauração e Reconstrução

Manter a Ucrânia conectada em tempo de guerra exigiu esforços heroicos de reparo e estratégias inovadoras de restauração por parte de engenheiros, empresas e autoridades do setor de telecomunicações. As principais iniciativas incluem:

Um técnico instala uma estação base móvel em Kherson dias após a libertação da cidade em novembro de 2022 [90]. Operadoras ucranianas restauram rapidamente a cobertura em áreas libertadas, apesar dos danos.

  • Reparos de emergência em campo: Engenheiros de telecomunicações atuam na linha de frente desde o primeiro dia. Muitas vezes usando coletes à prova de balas e capacetes, as equipes avançam “assim que possível” após bombardeios para reparar fibras rompidas ou erguer torres móveis temporárias [91] [92]. Essas equipes já repararam os mesmos locais várias vezes; algumas estações base foram reconstruídas de 5 a 8 vezes após ataques sucessivos [93] [94]. Em cidades recém-libertadas, técnicos às vezes chegam no dia seguinte à saída das tropas russas para começar a reconectar os moradores [95] [96]. O trabalho é perigoso – funcionários de telecomunicações já foram feridos ou mortos por minas terrestres ou novos ataques durante as restaurações [97]. Apesar disso, mais de 1.200 antenas móveis em áreas retomadas foram reparadas em 2022 [98], permitindo que cidadãos liguem para familiares e recebam notícias poucos dias após a libertação. Operadoras móveis também implantaram estações base portáteis em caminhões e geradores para oferecer cobertura temporária em cidades gravemente atingidas.
  • Compartilhamento de infraestrutura e roaming: Para maximizar a cobertura, as três grandes operadoras móveis da Ucrânia (Kyivstar, Vodafone, Lifecell) se uniram de maneira inédita. Em março de 2022, ativaram o roaming nacional, permitindo que qualquer telefone ucraniano se conectasse à rede disponível de qualquer operadora na área [99]. Assim, mesmo que uma torre estivesse fora do ar, o usuário poderia captar sinal de uma concorrente – backup vital que manteve celulares funcionando em várias regiões. As concorrentes também começaram a compartilhar geradores, combustível e depósitos de reparo. Por exemplo, durante o cerco a Mariupol, um engenheiro da Vodafone ficou famoso por compartilhar combustível diesel com geradores de operadoras rivais para manter antenas ativas sob ataque [100] [101]. Essa colaboração no setor privado, junto ao apoio do órgão regulador, garantiu que pelo menos uma rede continuasse funcionando nas cidades críticas.
  • Intervenções do governo: O Ministério da Transformação Digital e a agência reguladora de telecomunicações da Ucrânia agiram rapidamente para garantir a conectividade. Burocracias foram aceleradas – o que antes levava dois anos para um alvará de torre, agora demora cerca de 6 meses ou menos [102]. Em 2022 o governo abriu milhares de “Pontos de Invencibilidade” – hubs públicos gratuitos com eletricidade, aquecimento, internet via Starlink e carregamento de celulares – para que, durante apagões, a população pudesse acessar a internet. No segundo ano de guerra, mais de 5.000 abrigos, 3.500 creches e 570 unidades de saúde já contavam com pontos de internet de uso público [103]. Autoridades instalaram zonas de Wi-Fi gratuito em bibliotecas, estações de trem e centros de serviço público para atender comunidades quando a conexão domiciliar falha [104]. O governo também foi proativo buscando equipamentos de backup: importou milhares de geradores e baterias e até incentivou soluções experimentais (como usar carros elétricos como bancos móveis de energia para torres móveis) [105] [106]. Essas medidas, juntamente com maior agilidade regulatória, permitiram que operadoras restaurassem serviços mais rápido e mantivessem redes operando durante cortes de energia.
  • Ajuda internacional e Starlink: Aliados e parceiros da Ucrânia foram vitais para reforçar as comunicações. Em março–abril de 2022, SpaceX e a Agência dos EUA para Desenvolvimento Internacional (USAID) entregaram 5.000 terminais Starlink ao país, fornecendo internet emergencial independente da infraestrutura terrestre [107] [108]. Ao longo da guerra, o Starlink permitiu conexões robustas para governo, militares, hospitais e ISPs – em fim de 2023 a Ucrânia já era um dos maiores usuários do sistema, com mais de 47.000 terminais ativos [109]. Países europeus e operadoras também ajudaram: na conferência de reconstrução de 2023, a VEON (controladora da Kyivstar) prometeu investir €600 milhões para expandir o 4G [110] [111]. Em 2024, o EBRD e IFC (braço do Banco Mundial para setor privado) anunciaram US$ 435 milhões em financiamento para apoiar a fusão da Lifecell com Datagroup-Volia, criando uma segunda operadora nacional forte [112] [113]. Parceiros internacionais têm fornecido fibras ópticas, telefones via satélite e conhecimento técnico via programas como Emergency Telecommunications Cluster para reconstruir a infraestrutura digital. Esse apoio global não apenas corrige danos, mas está facilitando upgrades – como implantação de equipamentos modernos e fortalecimento da cibersegurança.

Juntos, esses esforços de recuperação mantiveram as comunicações da Ucrânia surpreendentemente resilientes. Mesmo durante os piores apagões no fim de 2022, 80% das torres móveis de Kharkiv permaneceram online graças a geradores e consertos ágeis, apesar do colapso da rede elétrica local [114]. Em meados de 2023, as operadoras já haviam instalado mais de 2.000 geradores e 120.000 baterias reserva em torres e centrais para suportar a falta de energia [115]. Essas ações conjuntas – bravura dos engenheiros, cooperação setorial, suporte governamental e auxílio internacional – significam que a Ucrânia evitou o “apagão digital” completo que a Rússia pretendia. A rede de telecomunicações foi abalada, mas não destruída, adaptando-se constantemente para manter serviços a cidadãos e setores essenciais.

Adaptação para Segurança e Resiliência

Enfrentando as ameaças duplas de ataques físicos e guerra cibernética, o setor de telecomunicações da Ucrânia implementou diversas melhorias de resiliência e segurança:

  • Redes descentralizadas e redundantes: A Ucrânia adotou a abordagem “a descentralização nos salva” nas comunicações [116]. A estratégia é garantir múltiplas camadas de conectividade: se a banda larga de fibra falhar em uma cidade, as redes móveis podem suprir a lacuna; se as redes móveis forem derrubadas, a internet via satélite (Starlink) pode ser usada como último recurso [117] [118]. Essa abordagem de camadas de backup foi testada durante apagões de energia – quando quedas interromperam a internet fixa, muitos ucranianos ainda conseguiram acessar a internet via dados móveis 4G, e instituições críticas migraram para conexões via Starlink. Distribuindo amplamente terminais Starlink (inclusive para vilarejos, postos avançados e centros de serviços essenciais), a Ucrânia possui uma rede de segurança via satélite difícil de ser completamente desativada pela Rússia [119] [120]. A redundância também é ampliada pelo acordo de roaming entre as operadoras, criando efetivamente uma rede multioperadora – uma área danificada raramente fica totalmente sem sinal se mesmo um provedor estiver disponível [121]. Esta diversidade de caminhos de conectividade aumentou muito a resiliência.
  • Backup de energia e reforço: Como os apagões se mostraram uma vulnerabilidade importante, as operadoras de telecom investiram fortemente em soluções de backup de energia. Além de milhares de geradores a diesel, as empresas instalaram grandes baterias (incluindo bancos de baterias de íons de lítio – mais de 120.000 unidades instaladas) para manter as torres de transmissão funcionando por horas sem energia da rede [122]. Algumas empresas estão testando células a combustível e fontes renováveis de energia nas estações-base para reduzir a dependência de qualquer fonte única. Os polos principais de telecom e data centers foram equipados com sistemas elétricos reforçados e, por vezes, relocados para regiões mais seguras ou instalações subterrâneas. Por exemplo, autoridades ucranianas transferiram discretamente alguns centros críticos de comutação de cidades de alto risco para locais mais seguros, garantindo que o tráfego da rede possa ser redirecionado instantaneamente se um nó cair. Como resultado, especialmente a rede móvel resiste melhor a apagões – em 2023, apesar dos cortes de energia em todo o país, muitas áreas urbanas ainda mantinham cobertura móvel intermitente graças a esses backups.
  • Cibersegurança e monitoramento de rede: Paralelamente ao reforço físico, a Ucrânia fortaleceu a cibersegurança em sua infraestrutura de telecom. Após o hack do satélite no dia da invasão e outros ciberataques, as empresas de telecom e unidades governamentais de cibersegurança reforçaram as defesas das redes. Os planos de reconstrução incluem significativo “fortalecimento de capacidade em cibersegurança”, segundo o Banco Mundial [123]. Autenticação em duas etapas, monitoramento contínuo e equipes de resposta a incidentes são agora padrão nos ISPs ucranianos [124] [125]. O regulador de telecom e o Serviço Estatal de Comunicações Especiais (SSSCIP) emitem orientações regulares para mitigar ameaças cibernéticas, especialmente porque agentes russos tentam sequestrar ou espionar comunicações em áreas ocupadas [126] [127]. Além disso, a Ucrânia tem pressionado por ação internacional – apelou à União Internacional de Telecomunicações (UIT) para sancionar a Rússia pelo uso ilegal de recursos ucranianos e códigos de telefone em territórios ocupados [128] [129]. Enquanto a diplomacia avança lentamente, internamente a Ucrânia passou a tratar telecom como parte vital da sua segurança nacional, integrando o planejamento de contingência das telecomunicações com militares e serviços de emergência. Isso inclui comunicações seguras para governo/defesa mesmo que as redes públicas caiam, utilizando rádio e satélite criptografados.
  • Atualização de tecnologia e fornecedores: A guerra também evidenciou riscos na cadeia de suprimentos de tecnologia. Antes de 2022, grande parte dos equipamentos de telecom da Ucrânia (até 70% para alguns operadores) era fornecida por empresas chinesas como Huawei e ZTE [130] [131]. Considerando o alinhamento político da China com a Rússia, a Ucrânia agora avalia alternativas para reduzir a dependência de tecnologia potencialmente não confiável [132] [133]. No entanto, substituir a infraestrutura existente é caro (mais de US$ 1 bilhão para trocar todos os equipamentos chineses) [134]. Uma solução provisória em análise é a tecnologia Open RAN (Open Radio Access Network), que permite a combinação de equipamentos de diferentes fornecedores [135]. Uma parceria com a japonesa Rakuten está em andamento para testar o Open RAN nas redes ucranianas [136]. Ao diversificar fornecedores e adotar soluções de arquitetura aberta, a Ucrânia busca aumentar a segurança (evitando backdoors) e a resiliência (partes interoperáveis que podem ser mantidas mesmo se um fornecedor for sancionado ou cortado). Além disso, a migração para redes baseadas em nuvem – acelerada pela guerra – permite que dados críticos sejam espelhados em data centers seguros no exterior, protegendo-os contra destruição física. Empresas ucranianas de tecnologia migraram muitos serviços para a nuvem (frequentemente na Europa), o que ajuda a preservar dados e aplicações mesmo se instalações locais forem atingidas [137] [138]. Essa resiliência digital garantiu que serviços governamentais digitais (como o aplicativo móvel Diia para documentos de cidadãos) e sistemas bancários permanecessem online durante o conflito.

Em suma, a guerra forçou as telecomunicações ucranianas a se tornarem resilientes e inovadoras como nunca. As lições aprendidas se traduziram em uma arquitetura mais robusta: altamente descentralizada, respaldada por satélites, com cooperação intersetorial e protocolos de segurança aprimorados. Essas adaptações não só mitigam as ameaças atuais, como também lançam as bases para uma rede pós-guerra ainda mais forte.

Perspectiva: Reconstrução e Desenvolvimentos Futuros (2025–2030)

Apesar da devastação, o setor de telecomunicações da Ucrânia está firmemente voltado para a recuperação e modernização nos próximos anos. Autoridades e empresas estão elaborando planos ambiciosos que aproveitam inovações desenvolvidas durante a guerra para o progresso do pós-guerra:

  • Restauração nacional e expansão do 4G: Nos próximos 3–5 anos, a Ucrânia pretende restaurar os níveis de conectividade anteriores à guerra e depois expandi-los ainda mais, alcançando áreas rurais adicionais. A Kyivstar, maior operadora móvel do país, anunciou planos para cobrir 98% da população ucraniana com 4G até 2026–2027 [139]. Isso implica não apenas reconstruir as mais de 4.000 estações-base destruídas, mas adicionar novas para melhorar a cobertura em vilarejos remotos. Financiamento e investimentos internacionais (como os €600 milhões da VEON e a fusão Lifecell-Volia com apoio do EBRD/IFC [140] [141]) vão impulsionar a expansão das redes. O governo apoiou leis para acelerar a construção de torres (por exemplo, simplificando aprovações de locação de terrenos para novos sites) [142] [143], permitindo uma implantação mais rápida. Até 2030, a Ucrânia espera ter uma das redes 4G mais extensas da Europa – uma plataforma pronta para o 5G e além. Ironicamente, a destruição causada pela guerra oferece oportunidade para reconstruir com equipamentos atualizados; muitas estações-base de reposição serão modelos de última geração e mais eficientes energeticamente (algumas já instaladas em 2023–24). Isso melhorará a qualidade do serviço e reduzirá os custos operacionais no longo prazo.
  • Introdução do 5G e tecnologias avançadas: A implantação completa das redes móveis 5G na Ucrânia foi adiada devido à guerra, mas os preparativos já estão em andamento para que comece assim que for viável. O Ministério da Transformação Digital já designou faixas de frequência para 5G (700 MHz, 3,4–3,8 GHz, etc.) e, em 2023, iniciou a elaboração do arcabouço legal para o licenciamento do 5G [144]. Uma implantação piloto limitada do 5G é esperada para 2025, possivelmente em Kyiv e Odesa, voltada para aplicações não militares e testes tecnológicos [145] [146]. Porém, a implantação comercial total do 5G provavelmente só ocorrerá após o fim da lei marcial, já que os militares precisam aprovar o uso de certas frequências [147]. Enquanto isso, a Ucrânia está explorando inovações intermediárias, como o Starlink “Direct-to-Cell” – um acordo foi assinado para que o país esteja entre os primeiros do mundo a receber essa conectividade satélite-para-móvel da SpaceX até 2025 [148] [149]. Até o final de 2025, clientes Kyivstar poderão começar a usar mensagens via satélite quando estiverem fora de alcance das torres, com voz e dados via satélite chegando depois [150]. Essa integração de satélite e celular está na vanguarda mundial, e a dependência da Ucrânia do Starlink durante a guerra a coloca em posição privilegiada para adotar essa tecnologia híbrida. Olhando mais adiante, autoridades ucranianas falam em aproveitar a reconstrução para instalar anéis de fibra óptica subterrânea, torres prontas para 5G e infraestrutura de IoT (Internet das Coisas) para modernizar agricultura, logística e serviços urbanos como parte da transformação digital do país.
  • Resiliência de longo prazo e integração à UE: Documentos de planejamento enfatizam que a reconstrução estará associada à melhoria da resiliência contra futuras ameaças – sejam militares ou naturais. Isso significa enterrar cabos de fibra críticos mais profundamente ou diversificar rotas (para evitar que um único corte isole uma região), reforçar data centers contra EMP ou sabotagem e manter os sistemas de backup multifásicos desenvolvidos durante a guerra (geradores, baterias, acordos de roaming, links via satélite). A Ucrânia também está alinhando suas regulações de telecomunicações às da União Europeia, já que busca a adesão. Já eliminou tarifas de roaming doméstico e adotou muitas regras europeias [151] [152]. No pós-guerra, a Ucrânia implementará o toolbox europeu de segurança para 5G – reduzindo provavelmente a dependência de fornecedores de alto risco – e ingressará em iniciativas paneuropeias de pesquisa em 6G, ciberdefesa e conectividade transfronteiriça. UE e outros doadores internacionais devem financiar uma parcela significativa da reconstrução das telecomunicações, considerando isso fundamental para a recuperação econômica ucraniana. Por exemplo, a UE destinou infraestrutura digital para os pacotes de ajuda, e organizações como o Banco Mundial elaboraram planos multibilionários para a reconstrução das TIC do país [153]. Essa injeção de capital, junto com a força de trabalho de TI qualificada do país, pode transformar a Ucrânia em um laboratório de soluções modernas de telecomunicações (como Open RAN, já citado, ou projetos nacionais de Wi-Fi público) nos próximos anos.
  • Impacto econômico e sociedade digital: Uma reconstrução robusta das telecomunicações é vista como catalisadora da recuperação mais ampla da Ucrânia. O setor de TIC se mostrou resiliente durante a guerra (aumentando até suas receitas de exportação em 2022, apesar da invasão) [154]. O fortalecimento das redes de internet e telefonia móvel atrairá investimento estrangeiro e permitirá que outros setores (finanças, educação, telemedicina) prosperem. O governo está empenhado em diminuir a exclusão digital – garantindo que comunidades devastadas pela guerra sejam reconectadas rapidamente, permitindo que moradores deslocados regressem e reconstruam suas vidas. Até 2030, a Ucrânia prevê acesso universal à internet como pedra angular de seu desenvolvimento. Os planos incluem expandir a banda larga de fibra óptica para todas as escolas e hospitais, implantar 5G ao longo dos principais corredores de transporte e usar a conectividade via satélite para áreas remotas, como regiões montanhosas e fronteiriças. Em essência, a Ucrânia visa não apenas reparar o que foi perdido, mas criar um modelo de “resiliência digital” para outros países – mostrando como uma rede moderna pode suportar choques e apoiar a sociedade mesmo perante adversidades extremas.

Em conclusão, a guerra de 2022–2025 causou danos severos à infraestrutura de telecomunicações da Ucrânia, de torres celulares destruídas e cabos rompidos a ondas de rádio silenciadas. Mas também evidenciou a coragem e a engenhosidade da resposta ucraniana: reparos de emergência sob fogo, uso inovador da internet via satélite, solidariedade setorial e rápida adaptação para manter o país conectado. Com o conflito ainda em curso em 2025, o ecossistema de comunicações da Ucrânia permanece uma linha vital para sua população e governo. As lições aprendidas – e o apoio de parceiros internacionais – agora impulsionam um esforço abrangente de reconstrução. Nos próximos 3–5 anos, podemos esperar ver na Ucrânia uma rede de telecomunicações muito mais avançada e resiliente do que a de antes da guerra, uma que não só se recupere da destruição, mas emerja mais forte, pronta para ser a espinha dorsal digital do futuro do país.

Fontes: Declarações do Ministério da Transformação Digital e da SSSCIP da Ucrânia; Euronews (abr. 2024) [155] [156]; TIME Magazine (out. 2022) [157]; Kyiv Independent (set. 2022) [158] [159]; Relatórios da NetBlocks [160] [161]; Network World (fev. 2023) [162] [163]; Notícias da Reuters (abr. 2022 – out. 2024) [164] [165]; Developing Telecoms (nov. 2024) [166] [167]; CEPA (out. 2023) [168] [169]; Relatórios do Banco Mundial / KSE [170] [171]; e outros citados acima.

How Ukrainian Telecom Endures War: Resilience and Communication Backup

References

1. www.euronews.com, 2. time.com, 3. www.euronews.com, 4. etcluster.org, 5. www.euronews.com, 6. kyivindependent.com, 7. time.com, 8. www.reuters.com, 9. www.reuters.com, 10. netblocks.org, 11. www.reuters.com, 12. kyivindependent.com, 13. www.euronews.com, 14. netblocks.org, 15. netblocks.org, 16. www.aljazeera.com, 17. netblocks.org, 18. netblocks.org, 19. netblocks.org, 20. netblocks.org, 21. netblocks.org, 22. netblocks.org, 23. www.euronews.com, 24. www.euronews.com, 25. kyivindependent.com, 26. kyivindependent.com, 27. time.com, 28. www.hrw.org, 29. www.hrw.org, 30. www.networkworld.com, 31. www.networkworld.com, 32. www.euronews.com, 33. www.networkworld.com, 34. developingtelecoms.com, 35. developingtelecoms.com, 36. www.csis.org, 37. www.networkworld.com, 38. time.com, 39. www.reuters.com, 40. www.reuters.com, 41. www.reuters.com, 42. www.reuters.com, 43. www.reuters.com, 44. www.info-res.org, 45. www.reuters.com, 46. www.euronews.com, 47. www.info-res.org, 48. www.info-res.org, 49. www.euronews.com, 50. www.euronews.com, 51. www.euronews.com, 52. netblocks.org, 53. www.euronews.com, 54. www.reuters.com, 55. time.com, 56. time.com, 57. www.euronews.com, 58. kyivindependent.com, 59. kyivindependent.com, 60. netblocks.org, 61. www.euronews.com, 62. www.euronews.com, 63. kyivindependent.com, 64. kyivindependent.com, 65. www.euronews.com, 66. etcluster.org, 67. www.networkworld.com, 68. www.euronews.com, 69. www.euronews.com, 70. etcluster.org, 71. www.euronews.com, 72. time.com, 73. www.networkworld.com, 74. www.networkworld.com, 75. time.com, 76. www.aljazeera.com, 77. www.reuters.com, 78. www.networkworld.com, 79. www.networkworld.com, 80. www.networkworld.com, 81. www.euronews.com, 82. www.euronews.com, 83. www.reuters.com, 84. www.reuters.com, 85. www.euronews.com, 86. www.euronews.com, 87. www.euronews.com, 88. www.euronews.com, 89. www.networkworld.com, 90. cepa.org, 91. developingtelecoms.com, 92. developingtelecoms.com, 93. developingtelecoms.com, 94. developingtelecoms.com, 95. time.com, 96. time.com, 97. time.com, 98. time.com, 99. www.euronews.com, 100. developingtelecoms.com, 101. developingtelecoms.com, 102. developingtelecoms.com, 103. www.euronews.com, 104. www.euronews.com, 105. developingtelecoms.com, 106. developingtelecoms.com, 107. www.reuters.com, 108. www.reuters.com, 109. www.euronews.com, 110. cepa.org, 111. cepa.org, 112. www.reuters.com, 113. www.reuters.com, 114. www.euronews.com, 115. developingtelecoms.com, 116. www.euronews.com, 117. www.euronews.com, 118. www.euronews.com, 119. www.euronews.com, 120. www.euronews.com, 121. www.euronews.com, 122. developingtelecoms.com, 123. www.euronews.com, 124. etcluster.org, 125. etcluster.org, 126. kyivindependent.com, 127. kyivindependent.com, 128. kyivindependent.com, 129. kyivindependent.com, 130. cepa.org, 131. cepa.org, 132. cepa.org, 133. cepa.org, 134. cepa.org, 135. cepa.org, 136. cepa.org, 137. www.csis.org, 138. www.csis.org, 139. cepa.org, 140. www.reuters.com, 141. www.reuters.com, 142. etcluster.org, 143. etcluster.org, 144. odessa-journal.com, 145. developingtelecoms.com, 146. www.linkedin.com, 147. odessa-journal.com, 148. www.reuters.com, 149. www.reuters.com, 150. www.reuters.com, 151. www.euronews.com, 152. developingtelecoms.com, 153. www.euronews.com, 154. www.csis.org, 155. www.euronews.com, 156. www.euronews.com, 157. time.com, 158. kyivindependent.com, 159. kyivindependent.com, 160. netblocks.org, 161. netblocks.org, 162. www.networkworld.com, 163. www.networkworld.com, 164. www.reuters.com, 165. www.reuters.com, 166. developingtelecoms.com, 167. developingtelecoms.com, 168. cepa.org, 169. cepa.org, 170. www.euronews.com, 171. www.reuters.com

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