O Starlink de Elon Musk vs. o apagão do Irã: checando os fatos sobre as 20.000 antenas secretas que reconectam uma nação

Introdução
Um relatório viral recente afirmou que Elon Musk “driblou” o apagão total da internet no Irã ao ativar o Starlink para 20.000 terminais de satélite escondidos dentro do país. A história dramática – que surgiu em meio a um conflito em escalada envolvendo o Irã e Israel – sugere que os satélites da SpaceX de Musk transmitiram internet sem censura aos iranianos após o regime tentar cortar o acesso. Considerando o histórico notório do Irã em censura e bloqueios de internet, e a crescente reputação do Starlink como um salvavidas digital em tempos de crise, essa alegação atraiu atenção global. Mas será verdade? Este relatório investiga todos os detalhes factuais da afirmação utilizando fontes atualizadas e confiáveis. Verificamos o que realmente aconteceu no Irã em junho de 2025, analisamos se 20.000 terminais Starlink estavam de fato operando clandestinamente, e buscamos corroboração nos principais meios de comunicação, autoridades e especialistas em tecnologia. Ao longo do texto, vamos explorar o contexto relacionado — do papel do Starlink em outras zonas de conflito (como a Ucrânia) aos apagões de internet no Irã e as implicações mais amplas para a liberdade global na internet.
Starlink Rompe o Apagão da Internet no Irã (junho de 2025)
Em meados de junho de 2025, um confronto militar repentino eclodiu entre Irã e Israel. Após ataques aéreos israelenses a instalações nucleares e militares iranianas, o governo iraniano impôs um bloqueio nacional da internet — um apagão digital com o objetivo de conter distúrbios e controlar informações ndtv.com timesofisrael.com. Em 14 de junho, o ministério das comunicações do Irã anunciou “restrições temporárias” ao acesso à internet “até que a normalidade retorne”, cortando efetivamente milhões de cidadãos da web global economictimes.indiatimes.com ndtv.com. No passado, tais apagões deixavam os iranianos num vazio informativo. Desta vez, porém, a ajuda veio do espaço.
Elon Musk interveio em poucas horas. O CEO da SpaceX – que já havia se manifestado a favor da liberdade na internet no Irã – anunciou na rede social X (antigo Twitter) que o serviço de internet via satélite Starlink estava agora ativo sobre o Irã iranintl.com timesofisrael.com. Em um breve tweet de 14 de junho, Musk escreveu: “Os feixes estão ligados.” iranintl.com timesofisrael.com Essa mensagem confirmou que os satélites Starlink estavam transmitindo conectividade para o espaço aéreo do Irã apesar do apagão imposto pelo regime. Basicamente, Musk “apertou o botão” para garantir que qualquer pessoa no Irã com um terminal Starlink pudesse se conectar. Ativistas iranianos solicitaram publicamente a ajuda de Musk enquanto o acesso à internet caía a quase zero — e ele atendeu. “Elon Musk disse no sábado que Starlink está ativo sobre o Irã, respondendo no X: ‘Os feixes estão ligados’,” relatou a Iran International, destacando que isso ocorreu após um usuário solicitar o restauro do acesso durante o apagão iranintl.com.
É fundamental ressaltar que a ativação do Starlink não reconectou magicamente todos os iranianos — apenas aqueles com o equipamento especial puderam se beneficiar. Mas o efeito estratégico foi imediato. Relatórios de veículos como o The Times of Israel confirmaram que a ação de Musk ofereceu um canal de comunicação vital durante o apagão. Até 15 de junho, o Starlink estava “ativado no Irã depois que Teerã cortou o acesso à internet dos cidadãos em resposta aos ataques israelenses”, permitindo que alguns iranianos voltassem a ficar online apesar dos esforços do governo timesofisrael.com.
O apagão no Irã ocorreu durante um conflito em rápida escalada. Forças israelenses atacaram lançadores de mísseis e instalações nucleares iranianas, e o Irã retaliou com barragens de mísseis contra Israel economictimes.indiatimes.com ndtv.com. Ambos os lados estavam trocando ataques, levantando temores de uma guerra maior. O regime iraniano, temendo protestos internos ou coordenação da população, tentou “parar a rebelião em casa” cortando os links de internet ndtv.com. Mas o Starlink de Musk minou essa estratégia. Ao contornar as redes terrestres, o Starlink permitiu que a informação continuasse fluindo. Como reportado pela NDTV, “Elon Musk anunciou que o Starlink… foi ativado no Irã depois que Teerã impôs restrições nacionais de internet” em resposta à agressão israelense ndtv.com. Em outras palavras, uma rede privada de satélites agiu onde nem a diplomacia tradicional nem a infraestrutura convencional conseguiram, reconectando ao menos uma parte da população iraniana ao mundo exterior.
20.000 Terminais Starlink Escondidos – Mito ou Realidade?
O centro da afirmação é o número de 20.000 terminais Starlink “já circulando nos mercados negros do Irã.” Embora o número exato de antenas clandestinas seja difícil de verificar, diversas fontes confiáveis corroboram essa ordem de grandeza. No final de 2024, jornalistas de tecnologia e analistas da indústria estimaram que dezenas de milhares de unidades Starlink estavam em uso dentro do Irã, apesar do serviço ser oficialmente proibido. A Forbes informou em dezembro de 2024 que “até 20.000 pessoas têm acesso à internet de alta velocidade [via Starlink] que é praticamente impossível para a República Islâmica censurar” irantimes.com. Essa adesão clandestina cresceu após Musk habilitar primeiro o Starlink para o Irã em 2022. Um portal focado no Irã resumiu: “O uso do Starlink aumentou nos últimos dois anos… Agora, até 20.000 pessoas [no Irã] têm acesso à internet de alta velocidade que é praticamente impossível para a República Islâmica censurar.” irantimes.com. Ou seja, cerca de 20.000 terminais Starlink estariam operando no Irã até o final de 2024, em grande parte por canais não oficiais.
Um terminal Starlink clandestino montado em Teerã, Irã, com a icônica Torre Milad ao fundo time.com. Ativistas divulgaram fotos como essa no final de 2024 como prova da presença dos terminais Starlink no solo iraniano, apesar da proibição oficial do governo. As antenas, contrabandeadas pelo mercado negro, proporcionaram acesso à internet sem censura que o regime teve dificuldades em bloquear.
Reportagens independentes da mídia da diáspora iraniana corroboram esses números. Em setembro de 2024, a Iran International observou que um especialista que monitora a disseminação do Starlink no Irã “estima que pode haver entre 10.000 e 20.000 terminais” já em uso, com base em informações de comerciantes e técnicos que facilitam o contrabando iranintl.com. No início de 2025, autoridades da indústria iraniana citavam números ainda maiores: mais de 100.000 usuários beneficiados pelo acesso via satélite. O chefe do Comitê de Infraestrutura de Comércio Eletrônico do Irã, Pouya Pirhosseinlou, disse à imprensa local em janeiro de 2025 que “mais de 30.000 usuários únicos estão utilizando internet via satélite, sugerindo que o número total de usuários [Starlink] ultrapassa 100.000.” iranintl.com iranintl.com. (Esse número provavelmente conta múltiplas pessoas compartilhando cada antena — por exemplo, um Starlink no telhado servindo várias famílias —, e não 100 mil aparelhos separados.) Embora esse número de 100 mil não tenha sido confirmado por fontes externas, ele está em linha com o crescimento astronômico em 2024; a mesma autoridade destacou que o uso da internet via satélite no Irã cresceu 20 vezes naquele ano iranintl.com. Para comparação, a Forbes havia estimado o número em 20 mil apenas um mês antes iranintl.com, ressaltando quão rápido o mercado negro de Starlink se expandiu.
Está claro que milhares de terminais Starlink de fato foram introduzidos de forma clandestina no Irã desde 2022. Essas unidades são frequentemente contrabandeadas de países vizinhos (como a região do Curdistão no Iraque, Turquia ou estados do Golfo Pérsico) porque a SpaceX não pode enviá-las legalmente para o Irã iranintl.com time.com. Possuir um desses é arriscado – as autoridades iranianas consideram ilegal o uso de equipamentos de satélite não autorizados, e a posse pode até mesmo resultar em acusações de espionagem iranintl.com time.com. Em um caso, forças de segurança iranianas confiscaram 22 antenas Starlink em novembro de 2023, alegando que eram aparelhos fornecidos pela CIA para dissidentes iranintl.com. Apesar desses perigos, a demanda cresceu entre iranianos ligados à tecnologia e ativistas. Os preços no mercado negro são altos: kits Starlink revendidos custam de US$ 700 a US$ 2.000 (contra cerca de US$ 250 no varejo nos EUA), e a assinatura mensal de US$ 70–US$ 110 deve ser paga por meio de esquemas complexos devido às sanções irantimes.com iranintl.com. Esses custos limitam o acesso ao Starlink a poucos privilegiados – uma realidade até reconhecida por Musk. Pelo padrão iraniano, é um luxo: “(O salário mensal médio de um iraniano é de cerca de US$ 250),” observou a Forbes, ilustrando como apenas a assinatura do Starlink já equivale à renda integral de muitos iranianos irantimes.com.
Então, Musk realmente “contornou” o apagão com 20.000 terminais? No essencial, sim – mas indiretamente. O papel de Musk foi ativar o sinal Starlink sobre o Irã (algo que ele pode fazer unilateralmente, via software), tornando o serviço disponível. Os terminais físicos já estavam em solo, escondidos em casas e pontos secretos por iranianos empreendedores. Assim que o Starlink foi ativado, esses aparelhos – sejam quantos forem, provavelmente dezenas de milhares – entraram em ação, reconectando seus usuários ao mundo exterior. Um analista do setor contou ao The Economic Times que “estima-se que 20.000 terminais Starlink estejam operando no Irã por meio de canais do mercado negro”, e é justamente por isso que a ativação feita por Musk foi importante economictimes.indiatimes.com. Sem essa rede latente de antenas, os “feixes” do Starlink não teriam receptores. Musk basicamente destravou uma internet clandestina pronta para ser usada. Isso está alinhado com o que o artigo viral descreve: o Starlink passou a transmitir internet sem censura para cerca de 20.000 terminais clandestinos no meio do apagão journee-mondiale.com journee-mondiale.com. Os números podem não ser exatos, mas diversos relatórios confiáveis confirmam a escala e o impacto.
É importante observar que 20.000 terminais ainda equivalem a uma fração minúscula da população do Irã (menos de 0,03% dos ~85 milhões de habitantes). O apagão não foi totalmente ineficaz para todos – a grande maioria dos iranianos permaneceu offline, apenas com acesso à mídia controlada pelo Estado. No entanto, esses milhares que tinham antenas Starlink passaram a ser um canal vital de informação. Eles puderam acessar notícias sem censura, se comunicar via redes sociais e aplicativos criptografados e, potencialmente, compartilhar atualizações de dentro do Irã. Em um regime que há muito tenta manter uma “cortina de ferro digital”, isso foi sem precedentes. Autoridades iranianas admitiram que a chegada do Starlink trouxe novas dores de cabeça. O ministro das telecomunicações do Irã já havia alertado que o serviço sem censura do Starlink “representa uma nova geração de acesso à Internet que não pode ser censurada pelo governo” irantimes.com. De fato, os satélites Starlink em órbita baixa (LEO) contornam os pontos de estrangulamento (ISPs nacionais e centrais de telecomunicações) que normalmente as autoridades controlam journee-mondiale.com journee-mondiale.com. Como diz o artigo viral, “a censura tradicional da internet depende do controle da infraestrutura física… os satélites do Starlink tornam esses pontos de controle obsoletos.” journee-mondiale.com Os censores iranianos perceberam que “não podiam simplesmente ‘desligar’ sinais de satélite externos” sem equipamentos avançados de bloqueio ou de interferência journee-mondiale.com.
Linha do tempo do envolvimento do Starlink no Irã
Para verificar melhor a alegação, ajuda ver como chegamos ao marco de junho de 2025. Abaixo está uma linha do tempo dos principais eventos, apoiados por fontes confiáveis, traçando a trajetória do Starlink no Irã do conceito à realidade:
Data | Evento & Marco |
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nov 2019 | O Irã impõe um apagão quase total da internet durante protestos nacionais. Milhões ficam desconectados por cerca de uma semana. (Ainda não havia Starlink disponível.) Isso antecipa táticas futuras. |
set 2022 | Em meio a protestos em massa após a morte de Mahsa Amini, o Tesouro dos EUA atualiza as sanções para apoiar a liberdade de internet no Irã reuters.com reuters.com. Elon Musk tuita “Starlink agora está ativado no Irã”, respondendo a um pedido de autoridades dos EUA (como o secretário Blinken) para ajudar iranianos a permanecerem conectados reuters.com. Musk confirma que a SpaceX buscará permissões se necessário reuters.com. |
out–dez 2022 | Sinais Starlink tornam-se acessíveis no Irã. Terminais contrabandeados começam a entrar. Musk indica, no fim de dezembro, que eles estavam “chegando a 100 Starlinks ativos no Irã” reuters.com reuters.com. O sindicato das telecomunicações de Teerã afirma que cerca de 800 aparelhos haviam sido contrabandeados até janeiro de 2023 iranintl.com. |
2023 | Crescimento clandestino: Ativistas iranianos e grupos da diáspora organizam o envio de kits Starlink apesar dos riscos time.com time.com. O governo do Irã apresenta uma queixa à UIT (out 2023) para declarar o Starlink ilegal sem autorização iranintl.com. Forças de segurança apreendem unidades Starlink e prendem usuários quando encontrados iranintl.com. Mesmo assim, o uso cresce discretamente. |
nov 2024 | Em uma reviravolta diplomática, Elon Musk se encontra com o embaixador do Irã na ONU em Nova York (reportado pelo The New York Times). Eles discutem formas de “reduzir tensões entre Irã e Estados Unidos.” reuters.com Esse canal informal – enquanto o presidente eleito dos EUA, Donald Trump, nomeava Musk conselheiro – indica que Musk estava envolvido em conversas geopolíticas além da tecnologia. (O ministério das relações exteriores do Irã negou oficialmente que a reunião tenha ocorrido dw.com.) |
dez 2024 | Forbes relata cerca de 20.000 usuários Starlink no Irã, graças a um “mercado negro em expansão” e redes de ativistas contrabandistas irantimes.com. O sinal verde anterior do governo dos EUA (Licença Geral D-2) tornou isso possível ao isentar equipamentos de internet via satélite das sanções reuters.com. O Starlink de Musk já se destaca como uma ferramenta da sociedade civil iraniana, ainda que fora do alcance da maioria (preço de revenda de cerca de mil dólares) irantimes.com. |
jan 2025 | Um funcionário da área de TI do Irã afirma que mais de 100.000 pessoas usam Starlink ou outros serviços de internet via satélite, apontando rápido crescimento iranintl.com iranintl.com. (Provavelmente cada terminal atende vários usuários.) Ele alerta que isso “drena milhões de dólares em moeda estrangeira” e enfraquece a economia controlada da internet iraniana iranintl.com. Ao mesmo tempo, o Irã pressiona a UIT para que o Starlink desligue o serviço ou desative terminais não autorizados. Em abril de 2025, a UIT aceita parcialmente o pedido iraniano, dizendo que o Starlink deve respeitar os “direitos territoriais” do Irã e deve identificar e desativar terminais ilícitos no país wanaen.com wanaen.com. (Os EUA rejeitaram a ideia de policiar aparelhos individuais, alegando que a fiscalização de fronteiras está além do mandato da UIT wanaen.com.) |
14 jun 2025 | Conflito Israel-Irã explode. Israel lança ataques contra instalações nucleares iranianas, matando oficiais militares; o Irã dispara mísseis contra cidades israelenses jpost.com ndtv.com. Temendo distúrbios, Teerã ordena um apagão nacional da internet – a conectividade cai praticamente a zero jfeed.com. Elon Musk ativa o Starlink sobre o Irã e tuita “Os feixes estão ligados”. Milhares de antenas Starlink escondidas em casas no Irã se conectam imediatamente, “transmitindo internet sem censura” além do bloqueio imposto pelo regime ndtv.com economictimes.indiatimes.com. É a primeira vez na história que uma rede privada de satélites derruba em tempo real o apagão estatal da internet. |
15–18 jun 2025 | Reações globais surgem. Ativistas iranianos comemoram a reconexão, mas pedem a Musk que elimine a cara mensalidade de US$ 100+ para mais pessoas poderem acessar uniladtech.com uniladtech.com. Uma petição intitulada “Elon Musk: Cumpra sua palavra ao povo iraniano” ganha apoio, destacando que muitos iranianos não podem pagar o Starlink nem têm cartão de crédito para pagar devido às sanções uniladtech.com uniladtech.com. O regime iraniano classifica o ato como intervenção informacional apoiada pelos EUA e deve intensificar a busca para localizar e confiscar antenas. Comentaristas globais debatem o precedente criado quando um CEO de tecnologia desafia efetivamente uma decisão soberana de governo. |
Tabela: Principais eventos do envolvimento do Starlink no acesso à internet do Irã, 2019–2025, com evidências de apoio.
Reações do Governo e Especialistas
Mídia tradicional e autoridades corroboraram os fatos centrais da história do Starlink no Irã. Por exemplo, agências como Reuters e veículos ligados à BBC relataram a ativação do Starlink por Musk tanto em 2022 quanto em 2025. No final de 2022, a Reuters noticiou a promessa de Musk de fornecer Starlink como parte de um esforço apoiado pelos EUA para promover “liberdade na internet e o livre fluxo de informações” no Irã durante os protestos por Mahsa Amini reuters.com. Em dezembro de 2022, Musk confirmou publicamente que quase 100 terminais estavam ativos no Irã reuters.com. Avançando para junho de 2025, vários veículos – do The Jerusalem Post à NDTV e parceiros da Reuters – reportaram que Musk ativou o Starlink em resposta ao apagão do Irã ndtv.com jpost.com. A mídia estatal iraniana também reconheceu o movimento de forma indireta; a agência ISNA publicou comunicado do Ministério das Comunicações sobre restrições e prometeu suspender os bloqueios quando a ordem fosse restabelecida ndtv.com, reconhecendo implicitamente que o motivo era sufocar o fluxo de informações durante o conflito.
Analistas de tecnologia e grupos de direitos humanos também se manifestaram sobre a importância da presença do Starlink no Irã. A Freedom House, em seu relatório Freedom on the Net de 2024, classificou o Irã como um dos ambientes de internet mais restritivos do mundo (3º pior globalmente) e mencionou o histórico do regime de “criminalizar dissidência online” iranintl.com. O surgimento da internet via satélite é visto como possível antídoto para essa repressão. “O crescimento do Starlink no Irã importa porque representa uma nova geração de acesso à internet que não pode ser censurada pelo governo,” explica Cyrus Farivar, redator sênior da Forbes, destacando seu potencial revolucionário caso os custos diminuam irantimes.com. Ativistas dentro do Irã também ecoam essa esperança – dizem que o Starlink é como “oxigênio” para quem sufoca sob blecautes de informação time.com time.com. Durante os protestos de 2022, aplicativos criptografados e VPNs frequentemente eram bloqueados ou lentos, enquanto o Starlink oferece um canal sem censura que o Estado não consegue filtrar facilmente.
No entanto, observadores também pedem cautela. Possuir um terminal Starlink no Irã pode ser perigoso. Como um ativista descreveu: “Ter dispositivos de comunicação não autorizados pode basicamente fazer de você um espião [aos olhos do regime]” time.com. A Guarda Revolucionária e as forças de segurança iranianas estariam, supostamente, à procura do hardware distinto do Starlink em postos de controle, especialmente nas províncias de fronteira time.com. As punições podem ser draconianas – quem é flagrado pode ser acusado de colaborar com inteligência estrangeira. O IranWire (site de jornalismo focado em direitos humanos) relatou que até possuir um telefone via satélite ou roteador VPN já levou pessoas à prisão antes; uma antena Starlink, muito visível, certamente serve como “prova” para acusações sérias. O alerta do artigo viral sobre risco de vigilância aumentada e até consequências fatais é tristemente real journee-mondiale.com journee-mondiale.com. De fato, ativistas disseram à revista TIME que, para quem é pego com um Starlink, “é simplesmente vida ou morte… se for pego, não há meio-termo” time.com time.com. Isso mostra que, enquanto o Starlink liberta pessoas da censura cibernética, também as torna alvos físicos de um regime paranoico.
Internacionalmente, a liderança iraniana ficou furiosa com o avanço do Starlink. Teerã apresentou queixas formais à União Internacional de Telecomunicações (UIT) da ONU, alegando que a SpaceX está violando a soberania do Irã ao fornecer serviços sem licença iranintl.com. Em abril de 2025, a UIT de fato afirmou em parte a posição iraniana, determinando que o Starlink “não deve oferecer serviços em território iraniano sem autorização” e até deveria ajudar a identificar terminais não autorizados wanaen.com wanaen.com. (Fazer cumprir essa medida é outra questão – a SpaceX e autoridades dos EUA resistiram, afirmando que rastrear dispositivos contrabandeados “está além do mandato” de qualquer órgão regulador de telecom wanaen.com.) O ressentimento iraniano é claro – ao perder o controle da informação, teme uma “rebelião digital” que não consegue reprimir. O governo iraniano também buscou métodos mais rudes: relatos indicam que já experimentou interferir nos sinais do Starlink ou em coordenadas de GPS. Durante períodos de tensão, o regime costuma bloquear transmissões de TV via satélite; táticas semelhantes podem ser usadas contra o Starlink, embora seja tecnicamente difícil interferir em dezenas de satélites LEO em movimento journee-mondiale.com iranintl.com. Mesmo assim, alguns usuários no Irã relataram interrupções que podem estar ligadas a interferências locais (como bloqueadores de radiofrequência de alta potência) – um jogo de gato e rato entre cidadãos familiarizados com tecnologia e censores do Estado.
Ativistas e ONGs defensoras da liberdade digital aplaudiram de forma unânime o potencial do Starlink para o Irã – mas pedem mais acessibilidade. Um dos maiores obstáculos é o preço. Em meados de junho de 2025, com a notícia da ativação do Starlink, uma coalizão de ativistas lançou uma petição na plataforma Ekō cobrando que Musk elimine as mensalidades do Starlink para iranianos uniladtech.com. Eles argumentam que não faz sentido proclamar que os iranianos estão conectados se só os ricos conseguem se manter online. “Mesmo quem pode pagar os US$110 não tem acesso a cartão de crédito para efetuar o pagamento,” diz a petição, lembrando que sanções dos EUA bloqueiam o setor bancário iraniano uniladtech.com uniladtech.com. Os ativistas também lembram Musk que, na devastada Ucrânia, a SpaceX isentou tarifas e doou terminais (com apoio de fundos dos EUA/Europa) uniladtech.com time.com. Pedem agora o mesmo para o povo combalido do Irã: “Elon quer o crédito por conectar os iranianos, mas opta por aparência em vez de substância… O mínimo que ele deveria fazer seria isentar as mensalidades do Starlink no Irã.” uniladtech.com uniladtech.com. Até a publicação deste relatório, Musk não se comprometeu publicamente, e o Starlink segue tecnicamente ilegal e financeiramente pesado para a maioria dos iranianos. Mas a pressão pública revela um ponto crucial – a internet via satélite só será uma verdadeira democratizadora se estiver acessível à população comum, não apenas a quem pode gastar centenas de dólares no mercado negro.
Os Precedentes da Starlink: Da Ucrânia ao Irã
A rede Starlink de Elon Musk já esteve sob os holofotes da geopolítica antes. A guerra da Ucrânia foi o primeiro grande caso em que a Starlink funcionou como infraestrutura crítica em uma zona de conflito, estabelecendo importantes precedentes que se aplicam ao caso do Irã. Apenas dois dias após o início da invasão em larga escala da Rússia à Ucrânia (fevereiro de 2022), quando forças russas derrubaram as redes de comunicação ucranianas, Musk atendeu a um apelo do ministro digital da Ucrânia para ativar a Starlink no país reuters.com. Em poucas semanas, milhares de terminais Starlink chegaram à Ucrânia – alguns doados pela SpaceX, muitos financiados por governos ocidentais e doadores privados. Em março de 2022, antenas Starlink já eram vistas nos telhados de cidades ucranianas bombardeadas e ao lado de trincheiras militares, mantendo a Ucrânia conectada onde fibras ópticas haviam sido cortadas time.com. Eventualmente, dezenas de milhares de unidades foram implantadas. Chamou a atenção o fato de que só a Polônia entregou 20.000 kits Starlink à Ucrânia ao longo da guerra, pagando também pela manutenção, para garantir a conectividade ucraniana reuters.com. Isso evidencia como, em conflitos abertos, governos aliados atuaram ao lado de Musk para financiar e distribuir a tecnologia.
O impacto da Starlink na Ucrânia foi profundo: ela “efetivamente substituiu a internet que foi derrubada durante a invasão russa”, como observou a revista TIME time.com. Unidades na linha de frente a utilizaram para comunicações seguras e operações com drones; civis usaram para contatar familiares e transmitir imagens da guerra para o mundo. No entanto, isso não aconteceu sem controvérsias. Como a Starlink é uma empresa privada controlada por Musk, questionaram-se confiabilidade e controle. Em outubro de 2022, Musk declarou que a SpaceX “não pode financiar a Starlink na Ucrânia indefinidamente” e pediu que o governo dos EUA assumisse os custos, fomentando um debate sobre o poder de um bilionário sobre a conectividade de uma nação reuters.com. (Pouco depois, ele voltou atrás e afirmou que a Starlink continuaria atendendo a Ucrânia “de graça”, ao menos por algum tempo, e o Pentágono acabou por arcar com parte dos custos.) Em 2023, surgiram relatos de que Musk recusou alguns pedidos ucranianos para estender a cobertura Starlink para operações ofensivas (por exemplo, ao redor da Crimeia), demonstrando o poder unilateral que detinha para escolher onde a rede poderia estar ativa. Esses episódios destacam um dilema: a Starlink pode salvar vidas em conflitos, mas também se torna ponto único de falha se o dono decidir limitar o serviço ou se houver disputas políticas.
Como isso se relaciona com o Irã? O caso iraniano revela também os potenciais e os riscos de uma internet global privatizada. Por um lado, a Starlink ofereceu uma solução que canais diplomáticos ou humanitários tradicionais não poderiam alcançar. Nenhum governo ou ONG conseguiria furar o apagão do Irã tão rapidamente quanto a SpaceX fez – literalmente, bastaram um tuíte de Musk e alguns cliques para que aqueles 20.000 terminais se conectassem. Essa rapidez e agilidade são inéditas; “decisões do setor privado em questão de horas” superaram respostas governamentais que costumam levar dias journee-mondiale.com journee-mondiale.com. É um exemplo claro da tecnologia atuando como política externa de fato. Contudo, isso concentra enorme poder nas mãos de Musk. Hoje,Elon Musk é, de fato, o porteiro do acesso à internet em dois países devastados pela guerra (Ucrânia e agora Irã) – um ator não eleito, não responsável perante ninguém, cujos interesses pessoais ou empresariais podem ditar a conectividade de milhões. Isso levanta perguntas incômodas: E se Musk discordar dos objetivos de um grupo? E se pressão geopolítica ou ameaças legais levarem a SpaceX a desabilitar o serviço? Essas preocupações não são teóricas; foram debatidas na Ucrânia e, certamente, preocupam os iranianos.
É notável que regimes autoritários estejam respondendo ao avanço da Starlink tratando-a como nova ameaça. A Rússia alertou abertamente que satélites comerciais ocidentais usados em guerra (como a Starlink) podem tornar-se “alvos legítimos para ataque retaliatório.” reuters.com Em outubro de 2022, um alto funcionário russo afirmou na ONU que “infraestrutura quase civil pode ser alvo legítimo” se usada para auxiliar a Ucrânia reuters.com reuters.com. Era uma referência pouco velada à Starlink, e de fato, a Rússia já tentou bloquear sinais Starlink no campo de batalha (a SpaceX declarou que precisou atualizar rapidamente seus softwares para combater a guerra eletrônica russa) reuters.com reuters.com. De forma semelhante, militares ou serviços de inteligência iranianos podem considerar terminais Starlink como instrumentos de espionagem ou comunicação militar – tratando quem possui uma antena como inimigo. Esse é um paradigma perigoso. Pode resultar em empresas de tecnologia ou seus ativos sendo visados em conflitos, borrando a linha entre civil e combatente. Os próprios satélites SpaceX poderiam ser atacados (ainda que derrubar satélites seja medida extrema e escalatória – e Musk brincou em 2022 que “se tentarem explodir, não é fácil” devido à constelação Starlink ser formada por milhares de satélites pequenos).
Além da Ucrânia, houve usos menores da Starlink em desastres ou apagões que reforçam seu valor. Por exemplo, quando a guerra no Sudão em 2023 derrubou os serviços de telecomunicações por semanas, alguns sudaneses conseguiram obter antenas Starlink e voltar a se conectar reuters.com. Na erupção vulcânica de Tonga em 2022, a Starlink foi levada para restaurar a internet. Esses exemplos reforçam que a internet via satélite pode prover conectividade quando a infraestrutura convencional é destruída ou deliberadamente desligada. O caso iraniano é único porque o apagão foi deliberado (instrumento de repressão política) e um agente privado praticamente contrariou a ação do Estado. Isso cria um precedente poderoso: da próxima vez que um governo autoritário ordenar um blackout digital – seja na Síria, Mianmar ou em outro lugar – poderão surgir pedidos para a Starlink ou sistemas similares intervir.
Censura à Internet no Irã e o Impacto da Starlink
O regime iraniano exerce há anos controle rigoroso sobre o ciberespaço. A censura à internet no Irã inclui bloqueio de milhares de sites (como redes sociais Twitter, Facebook, Instagram e vários portais de notícias), redução intencional da velocidade e vigilância das atividades online. Em períodos sensíveis, o governo não hesita em impor apagões quase totais. Só em 2022, o grupo de direitos humanos Access Now “documentou 18 apagões de internet no Irã — quase todos durante protestos nacionais.” whyy.org Esses foram desde cortes regionais (como bloqueio de dados móveis em províncias agitadas) até toques de recolher nacionais sobre o serviço de internet no auge das manifestações. O regime também investiu em uma chamada Rede Nacional de Informação, uma intranet capaz de manter serviços essenciais (como bancos ou sites governamentais) funcionando internamente enquanto isola o Irã do restante da internet – uma arquitetura de “botão de desligar” para cortar o país da rede global.
A partir desse contexto, a chegada da Starlink ao Irã pode transformar o jogo no embate de gato e rato da censura digital. Usuários iranianos historicamente confiaram em VPNs, proxies e aplicativos de contorno para acessar mídias bloqueadas como Telegram ou WhatsApp whyy.org. Mas essas ferramentas ainda dependem da internet local, que o regime pode desacelerar ou cortar. Já a Starlink transmite a conexão de fora das fronteiras iranianas, burlando os portais controlados pelo Estado. Desde que a antena tenha visada para o céu e o serviço esteja habilitado, o governo não pode filtrar os sites acessados – é um sinal sem censura. Isso torna ineficaz o infame “filtro” iraniano para esses usuários. Também mina o “muro digital” usado pelas autoridades para restringir a circulação de informações. Notícias sobre atrocidades ou corrupção podem, potencialmente, circular mesmo durante repressões, por meio de usuários Starlink compartilhando vídeos e relatos. Por exemplo, nos protestos de novembro de 2019, o mundo ficou praticamente sem notícias do Irã após o desligamento da internet – centenas morreram em segredo. Em futuros momentos de agitação, o uso disseminado da Starlink pode tornar muito mais difícil esse tipo de apagão informacional, aumentando a transparência e a responsabilização.
Dito isso, o regime vai se adaptar. Já mencionamos os riscos de represálias físicas e punições legais para os usuários do Starlink. Também podemos ver o Irã intensificar contramedidas técnicas, como um bloqueio de rádio mais agressivo. (O Irã já tem experiência em bloquear transmissões de TV por satélite, embora os sinais de espectro expandido e a redundância de rede do Starlink tornem-no um alvo mais difícil.) Há também o medo da triangulação de sinais: as forças de segurança poderiam tentar localizar terminais Starlink ativos por radiogoniometria e então invadir esses locais. Em zonas de guerra como a Ucrânia, forças russas teriam tentado localizar sinais de uplink do Starlink para bombardear essas posições time.com. Os manifestantes no Irã temem táticas semelhantes – uma antena do Starlink poderia, em teoria, servir de farol caso o regime use equipamentos avançados para localizá-las. A SpaceX revelou pouco sobre contramedidas contra bloqueios, mas Musk afirmou que tiveram que inovar contra os bloqueios russos na Ucrânia. Usuários iranianos também adotaram precauções: alguns escondem a antena característica do Starlink (por exemplo, pintando-a ou disfarçando-a entre antenas parabólicas comuns para evitar detecção) reddit.com.
Outro desenvolvimento fascinante são os próximos serviços de satélite para smartphones. A SpaceX anunciou planos para o serviço Starlink Direct-to-Cell para 2024–25, em parceria com operadoras para conectar celulares comuns diretamente aos satélites para envio de mensagens (e futuramente ligações/dados) meforum.org. Se tal tecnologia amadurecer, pode revolucionar o controle da internet – porque então todo smartphone poderia potencialmente driblar redes locais, sem sequer precisar de uma antena do Starlink. Imagine um Irã (ou China, ou Coreia do Norte) onde os telefones conectam-se diretamente a uma rede de satélites fora do controle do governo. Regimes autoritários enfrentariam um pesadelo ainda maior, já que sua capacidade de vigiar e filtrar comunicações seria drasticamente reduzida. Claro, eles podem responder proibindo ou bloqueando modelos específicos de celulares, ou blindando intensamente o país contra sinais de satélite (um desafio técnico e físico colossal). Essa corrida armamentista deve se intensificar. A liderança iraniana já estuda “Áreas de Liberdade Cibernética” (segundo algumas notícias) – essencialmente zonas controladas onde a internet é aberta, porém monitorada, para atrair pessoas e afastá-las de conexões ilegais via satélite. É sinal de que sabem que o status quo do controle está sob ameaça.
O Futuro: Satélites, Soberania e Liberdade na Internet
O episódio Starlink-no-Irã é um divisor de águas que levanta grandes questões sobre o futuro da liberdade na internet e da soberania estatal. Para cidadãos sob regimes repressivos, oferece um vislumbre tentador de libertação: um canal de internet incensurável que os governos não conseguem cortar facilmente. Para esses regimes, é um alerta – as táticas tradicionais de censura e apagão estão sendo superadas pela tecnologia. Como observou astutamente o artigo da journee-mondiale, “todo governo autoritário agora sabe que apagões de informação enfrentam possíveis soluções privadas,” forçando-os a repensar suas estratégias journee-mondiale.com journee-mondiale.com. Podemos esperar que Estados autoritários redobrem as contramedidas (seja legais, técnicas ou coercitivas) para impedir que internet via satélite mina seu poder.
Por outro lado, governos democráticos e organizações internacionais podem ver a internet via satélite como nova ferramenta de soft power ou ajuda humanitária. Os Estados Unidos apoiaram claramente o uso do Starlink no Irã – de fato, o Departamento do Tesouro americano ajustou explicitamente sanções em 2022 para “aumentar o apoio à liberdade na internet no Irã”, criando exceções que permitiram o envio de equipamentos e serviços Starlink para iranianos reuters.com. Autoridades enquadraram isso como uma atitude de apoio ao povo iraniano contra a repressão informacional do governo. No futuro, fornecer acesso à internet via satélite pode tornar-se uma resposta padrão da comunidade internacional quando uma autocracia tentar cortar comunicações – uma espécie de “ponte aérea digital” de conectividade.
No entanto, isso também entra em terreno nebuloso. Quando a oferta de acesso à internet se torna ato de interferência estrangeira? O Irã certamente enxerga assim – acusando Musk (e por extensão os EUA) de violar sua soberania. Estamos em território desconhecido, onde uma empresa privada pode, num clique, projetar influência dentro das fronteiras de outra nação em tempo real, sem empregar tropas nem distribuir folhetos. Alguns chamam isso de “diplomacia digital” ou até uma nova forma de guerra da informação. O artigo da journee-mondiale descreveu como “a tecnologia torna-se diplomacia” e atores privados empunham “influência de nível estatal sem restrições diplomáticas tradicionais.” journee-mondiale.com journee-mondiale.com De fato, a intervenção de Musk no Irã borraram a linha entre serviço corporativo e ato de política externa.
Esse precedente pode encorajar outras empresas de tecnologia (ou seus CEOs) a adotarem papéis mais ativistas – ou, ao contrário, afastá-las devido ao potencial de retaliação. O perfil midiático de Musk torna o Starlink um caso único; nem toda empresa estaria disposta a enfrentar um governo hostil. Além disso, os motivos de Musk são multifacetados – ele cultiva a imagem libertária e pró-liberdade de expressão, mas tem interesses comerciais globais (a Tesla, por exemplo, atua em mercados como o chinês, onde a liberdade digital é sensível). Até que ponto o Starlink será usado para promover a internet livre é uma questão em aberto.
Devemos também considerar o aspecto da “militarização”: se satélites privados tornarem-se rotina no apoio a dissidentes ou a um lado de um conflito, governos adversários podem passar a mirar esses ativos. A ameaça russa aos satélites comerciais é um exemplo reuters.com. Há também receio de que empresas como SpaceX tornem-se alvo de ataques cibernéticos patrocinados por Estados ou de sanções. No caso iraniano, o país não pode atingir facilmente satélites, mas pode atacar a SpaceX de outras formas – talvez detendo funcionários da SpaceX ou Tesla em viagens ao Irã, ou com ataques cibernéticos à infraestrutura do Starlink. Também pode pressionar por regulação internacional para controlar a internet por satélite. As discussões na ITU indicam uma batalha diplomática iminente sobre quem controla o céu do ciberespaço.
Para os defensores globais da liberdade na internet, a história do Irã e Starlink é em grande parte uma vitória – manteve a informação circulando e deu esperança às pessoas. Hadi Ghaemi, do Centro para Direitos Humanos no Irã, afirmou em 2022 que o Starlink “seria um divisor de águas para a sociedade civil… A internet interna da República Islâmica se tornaria efetivamente obsoleta.” (Citação via CNN). E durante os protestos de 2022, imagens de mulheres queimando hijabs talvez não tivessem chegado ao mundo se não fossem aquelas poucas conexões Starlink enviando vídeos quando a internet móvel foi cortada. Em 2025, igualmente, relatos do que acontecia no Irã durante a escalada entre Israel e Irã provavelmente chegaram ao mundo graças a usuários do Starlink. Nesse sentido, o Starlink golpeou de fato a censura.
Ainda assim, não é uma solução mágica. A liberdade digital depende, em última análise, de pessoas – não apenas de tecnologia. Regimes autoritários podem manter o controle pelo uso puro da força – fechando torres de celular, prendendo qualquer um suspeito de ter uma antena, torturando por senhas. Vimos no Irã que a resistência digital precisa ser combinada com estratégias de segurança física. A cartilha do regime pode evoluir: em vez de longos apagões nacionais, que provocam intervenções como o Starlink, podem optar por bloqueios regionais seletivos ou reduzir a internet a conta-gotas (o suficiente para frustrar, mas não a ponto de chamar atenção global). Podem investir em tecnologia própria de satélite ou redes alternativas (Rússia e China já trabalham em suas constelações, estas, claro, sob controle estatal).
Do ponto de vista de projeções futuras, pode-se imaginar um mundo, nos próximos 5–10 anos, em que a internet via satélite seja onipresente – oferecida não só pelo Starlink, mas pelo Projeto Kuiper da Amazon, constelações europeias, os satélites GNSS chineses etc. Se houver múltiplos provedores, ficará ainda mais difícil para regimes bloquearem todas as fontes. Talvez vejamos também normas internacionais se formando: tratados ou diretrizes da ONU sobre fornecer acesso à internet durante crises, para evitar interpretação como agressão. O uso do Starlink na Ucrânia já está levando o Departamento de Defesa dos EUA a discutir contratos para acesso garantido, para não dependerem apenas da decisão de um CEO.
Em conclusão, a afirmação de que “Elon Musk contornou o apagão total de internet do Irã com 20.000 terminais Starlink escondidos” resiste à análise. Evidências críveis comprovam que, em junho de 2025, Musk ativou o Starlink sobre o Irã e cerca de 20.000 terminais clandestinos – contrabandeados ao longo dos dois anos anteriores – permitiram que milhares de iranianos se reconectassem à internet sem censura ndtv.com economictimes.indiatimes.com. Veículos tradicionais, da Reuters a mídias regionais, documentaram esses fatos, e autoridades e especialistas corroboram amplamente o cenário. O evento marca um marco na batalha entre conectividade e censura. Como observou ironicamente um comentarista israelense, o Starlink tornou-se uma “máquina de libertação” contra a tirania digital iranintl.com. Resta saber se este é um episódio isolado ou o início de uma nova era, em que redes de satélite rotineiramente atravessam cortinas de ferro digitais. Mas uma coisa é certa: o equilíbrio de poder entre regimes autoritários e o livre fluxo de informação mudou, ainda que só um pouco, graças a iniciativas como o Starlink. E para milhões que anseiam por internet sem censura, esses “poucos graus” de mudança – levados por milhares de pequenos satélites no céu – são um farol de esperança.
Fontes
- Reuters – “Elon Musk diz que cerca de 100 Starlinks já estão ativos no Irã” (27 de dez, 2022) reuters.com reuters.com
- Reuters – “Musk diz que vai ativar Starlink durante protestos no Irã” (23 de set, 2022) reuters.com reuters.com
- Reuters – “Elon Musk se encontrou com embaixador do Irã na ONU, diz NYT” (14 de nov, 2024) reuters.com
- Reuters – “Tesouro dos EUA diz que alguns equipamentos de internet via satélite podem ser exportados para o Irã” (20 de set, 2022) reuters.com
- Iran International – “100.000 iranianos usam Starlink para desafiar restrições à internet” (6 de jan, 2025) iranintl.com iranintl.com
- Iran International – “Starlink está tornando inútil o filtro de internet do Irã?” (10 de set, 2024) iranintl.com iranintl.com
- Forbes – “Por dentro do mercado negro de terminais Starlink no Irã” (18 de dez, 2024) irantimes.com irantimes.com
- Economic Times (Índia) – “Starlink de Elon Musk ativada no Irã em meio a tensões” (15 de jun, 2025) economictimes.indiatimes.com economictimes.indiatimes.com
- NDTV – “Starlink de Elon Musk ativa serviço de internet por satélite no Irã…” (15 de jun, 2025) ndtv.com ndtv.com
- Times of Israel – Blog ao vivo: Musk diz que ativou Starlink após corte de internet no Irã (15 de jun, 2025) timesofisrael.com timesofisrael.com
- Iran International – “Musk diz ‘os feixes estão ligados’… Starlink ativo sobre o Irã” (14 de jun, 2025) iranintl.com
- Unilad Tech – “Ativistas pedem que Musk retire taxa do Starlink após ativação no Irã” (17 de jun, 2025) uniladtech.com uniladtech.com
- WANA News (Irã) – “UIT reafirma direitos territoriais do Irã sobre Starlink” (9 de abr, 2025) wanaen.com wanaen.com
- Reuters – “Rússia avisa o Ocidente: podemos mirar seus satélites comerciais” (27 de out, 2022) reuters.com
- Reuters – “Polônia está pagando pelo Starlink da Ucrânia… entregou 20.000 unidades” (22 de fev, 2025) reuters.com reuters.com
- TIME – “Como ativistas levam o Starlink de Elon Musk para manifestantes iranianos” (jan de 2023) time.com time.com